terça-feira, 5 de outubro de 2010

TDAH (Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade) ou TAB (Transtorno Afetivo Bipolar)




TDAH (Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade) ou TAB (Transtorno Afetivo Bipolar)

Às vezes fica tudo tão parecido...

Eu vou tentar reproduzir um trecho de uma de nossas consultas: A minha mãe morreu de doença bipolar. Eu sempre fui conhecido como polvolino ou polvilho, sabe por quê? Por causa daquele biscoito..., sabe aquele biscoito Globo, que a gente come na praia, que neguinho vende nas ruas quando o trânsito está parado ou engarrafado? Ele esfarela todo! E eu era assim, por onde eu passava, eu deixava um monte de marcas, um monte de farelos, por onde eu ia, todo mundo sabia... eu era estabanado desde pequeno, tinha um troço dentro de mim que não parava quieto, eu andava pela casa e toda hora eu derrubava uns bibelôs da mamãe e ela ficava transtornada! Não parecia a minha doce e triste mãe, que vivia jogada naquela maldita cama pelo menos uns 300 dias do ano... ainda bem que eu era rápido, quando eu derrubava os enfeites da mamãe eu saía correndo, ia pra casa da vizinha, tia Lany, e me escondia no banheiro da empregada!

Do banheiro da tia Lany eu ouvia os grunhidos da mamãe, os berros dela, e logo depois os barulhos das coisas que ela mesma quebrava dentro de casa, por causa da raiva que entrava dentro dela... os anos foram passando e chegou o dia que meu pai largou a casa.

Pegou uma sacola e uma mala e botou tudo o que ele conseguiu. Beijou a minha testa, mandou eu tomar conta da minha mãe e me pediu desculpas, disse que não dá mais pra aturar a doida da sua mãe, ela está insana, palavras dele. Sequei as lágrimas que escorriam pelo meu rosto, estavam quentes, de tanta raiva que eu senti dele.

Corri pra procurar o Aurélio, queria ver direito o que era insana. Fiquei com ódio do meu pai.

Naquele dia eu quebrei tudo dentro de casa, gritei e xinguei até cair no chão, sem forças. Acordei apavorado com sangue no meu braço, da maldita jarra que eu joguei contra a parede e que me cortou.

Minha cabeça parecia um avião. Um avião em pane, claro. Custei a ficar normal. Quando vi o estrago que eu tinha feito em casa, fiquei sem força nas pernas, minha vista escureceu e eu achei que ia desmaiar. Fui me arrastando pelo chão até a porta da sala. Eu tinha que fugir.

Quando a minha mãe visse tudo aquilo ela ia acabar comigo. Quando ela soubesse que meu pai não voltaria mais, ela poderia me matar com aquele cinto desgraçado. Ela ia me matar. Naquele dia eu não fui pra tia Lany. Tinha que ir pra mais longe. Passei aquela noite sentado no banco da rodoviária, até o dia amanhecer. Da rodoviária até a minha casa andando a pé levava uma hora mais ou menos, mas eu estava tão agitado, tão apressado, que levei uns vinte minutos até chegar em casa.

Deu um bloqueio em mim quando eu cheguei na esquina de casa. Fiquei uns trinta minutos parado olhando para o meu prédio. Parecia tudo calmo. Calmo?

Ah, essa palavra nunca existiu no meu vocabulário... pra encurtar o meu sofrimento, a minha raiva, o meu medo e a minha culpa, eu acabei sabendo que a minha mãe tinha tentado se matar e que tinha sido levada para um hospital.

Nos seis meses seguintes eu fui obrigado a ir morar com a minha tia. Era outra insana, nervosa, esquisita e muito chata! Só falava gritando, berrava o tempo todo. Quando ela saía pra trabalhar, parecia um paraíso... Meu Deus, quem inventou escova de dente e escola? Eu sempre odiei escola! A escola era o meu martírio, o meu holocausto, o lugar onde eu paguei todos os meus pecados, todas as minhas culpas! A única coisa que prestava era a Estelinha, lábios gordinhos e róseos... hum, era só o que prestava e era a única coisa que fazia as minhas pernas entrarem naquela maldita sala de aula... nossa, como eu sofri!

Gozado, o dia parecia dividido. Um lado ensolarado, colorido. O outro lado, nuvens negras, sombrias, abutres. Minha cabeça parecia um pião desgovernado. Nada encaixava com nada. De repente, um barulho da porta que se abriu e eu me lembro como se fosse hoje, um homem grande, todo de branco, entrou pela porta com a minha mãe pelo braço. Pensei que ia morrer. De medo, sei lá. Mas foi esquisito porque nem eu corri pra abraçá-la e nem ela correu pra me abraçar.

Ficamos dois túmulos. Ela deu um sorriso amarelo pra mim e muito depois estendeu os braços. Parecia que tinha uns dez anos que eu não via a mamãe. Ela estava velha e acabada. Olhava para o nada, tremia de leve, parecia abobalhada. Nunca mais voltei naquele lugar.

Dois anos depois, a tia Lany foi me procurar na casa da minha tia. Não falou nada e só me abraçou e não parava de chorar. Mamãe morreu, tia? Ela morreu, não é?Vi a minha mãe no velório. Quase esmurrei o velho do meu pai, aquele assassino! Ainda teve o despautério de chorar! Quis lavar a honra da minha mãe, quis muito acabar com o velho, mas alguma coisa em mim me segurou.

Dei um beijo na testa da mamãe e saí dali correndo. Estava com falta de ar. E hoje, Dra., eu estou aqui porque eu acho que eu venho tendo umas coisas parecidas com as coisas que a mamãe tinha... .

Evelyn Vinocur é psicoterapeuta cognitivo comportamental. Atua na área de saúde mental de adulto e é especializada em saúde mental da infância e adolescência.

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

(TERAPIA COGNITIVO COMPORTAMENTAL)



(TERAPIA COGNITIVO COMPORTAMENTAL)
 X
 TDAH (TRASNTORNO DE DÉFICIT DE ATUAÇÃO E HIPERATIVIDADE)
 
            Vários autores que estudam os processos psicopatológicos, a neurobiologia e a neuropsicologia da TDAH, sugerem que uma disfunção no córtex pré-frontal e em suas conexões com a rede subcortical e com o córtex, parietal possa ser a responsável pelo quadro clinico deste transtorno.
            Essas alterações seriam responsáveis por um déficit do comportamento inibitório e das funções chamadas executivas, incluindo memória de trabalho planejamento, auto-regulação da motivação e do limiar para ação dirigida a objetivo definido e internalização da fala.
            O déficit do comportamento inibitório e das funções cognitivas, traduzir-se-ia nas características básicas do transtorno, ou seja, falta de controle, falta de motivação intrínsica para completar tarefas, falta de um comportamento governado por regras e uma resposta errática sobre condições típicas na escola e em casa que estão associadas a recompensas inconsistentes e demoradas.
            Tem-se reconhecido que apsicopatologia na infância e adolescência do ponto de vista do referencial cognitivo-comportamental, abrange dois grandes grupos de patologias: A patologia em que os aspectos principais são os relacionados a distorção cognitivas – depressão e ansiedade, nas quais as distorções do pensamento com a generalização e catastrofização são bastante comuns e  as patologias associadas a deficiência cognitivas – TDAH – encontram-se estratégias deficientes de solução de problemas, associados a uma ação imediata cognitiva geral. Isso leva normalmente a uma ação imediata, anterior a qualquer pensamento (o agir antes de pensar, característico de pacientes com o transtorno).
            Assim é muito mais difícil remediar estratégias cognitivas de longa data alterada, de que distorções do pensamento muitas vezes agudamente estabelecida.
            Mais ainda, como estes déficits cognitivos têm sua origem em processos neurobiológicos que ocorrem em período pré-verbais, estratégias cognitivo-comportamentais que se baseiam eminentemente em mediação verbal tendem a ter menos chance de êxito.
            O TDAH representa um dos maiores desafios para as diferentes modalidades psicoterapicas, uma vez que por ter base predominantemente “orgânica”, parece pouco permeável as intervenções psicológicas. Estas atuam de modo insuficiente ou não atuam nos sintomas primários do TDAH.
            Embora haja uma farta literatura sobre a TCC (Terapia Cognitiva-Comportamental) em paises desenvolvidos, muita pouco tem-se escrito sobre ao tema devido a vários fatores, entre eles:  
  • Pouca atenção dada à detecção e ao tratamento de problemas de saúde mental em crianças no Brasil.
  • A terapêutica psicoterápica desses problemas na infância e na adolescência em nosso meio ser dominada por um único referencial teórico, ou seja, o referencial psicodinâmico.
  • Embora a psicoterapia psicanalítica tenham espaço claro no tratamento de crianças e adolescentes, seria hoje um reducionismo aceitar que toda a complexidade envolvida nos transtornos mentais da infância e adolescente pudesse ser abarcada por um único método.
O tratamento sempre será ciência e arte clinica. Segundo diretrizes básicas, modificações e flexibilizações serão necessárias de acordo com cada criança / adolescente e sua família e de acordo com diferentes contextos nos quais a técnicas for empregada.
Da mesma forma, este não é o único modelo psicoterápico possível, nem necessariamente o mais correto.
Hoje a TCC (Terapia Cognitivo-Comportamental) é o tratamento especificamente recomendado para crianças em idade treinando os pais e os professores a recompensar a criança quando esta demonstra o comportamento desejado e proporcionando conseqüências negativas quando não corresponde dos objetivos comportamentais propostos. Várias técnicas e estratégias de manejamento podem ser utilizadas (treinamento do comportamento dos pais, controle de comportamento na sala de aula, etc) e, as que mostram resultados positivos comprovados, enfatizam estruturar o meio ambiente da criança de modo a propiciar conseqüências consistentes para comportamentos desejados e não, desejados mais do que tentar ensinar às crianças novas habilidades cognitivas e/ou comportamentais. Esse treinamento das habilidades – apesar de intuitivamente tentador ainda não se mostrou claramente eficaz no tratamento dos sintomas básicos do TDAH.
É importante reafirmar que essa recomendação não significa, necessariamente, não haver espaço para o treinamento de habilidades. O ponto a ser lembrado é que a abordagem de treinamento dificilmente diminuirá os sintomas básicos do transtorno.
As diretrizes da AAP (Associação Americana de pediatria) apontam que apesar dos efeitos positivo de uma terapia comportamental bem conduzida terem sido claramente demonstrados, há limitações importantes para esse tratamento. Primeiro, quase todos os estudos que comparam a terapia comportamental com o uso de estimulantes indicam uma melhora muito maior dos sintomas básicos do TDAH quando é usado o medicamento. Segundo, assim como acontece com o uso do medicamento, a terapia comportamental freqüentemente não conduz a criança ao nível de comportamento normal. Finalmente, a terapia comportamental geralmente não proporciona mudanças positivas mais duradouras do que o tempo em que está sendo implementada. Os pais portanto, precisam estar preparados para manter o tratamento durante todo o desenvolvimento da criança. Isto está de acordo com a idéia do TDAH ser uma condição crônica,  e não algo que pode ser curado com este ou aquele tratamento.
Os dados recentes do MTA indicam que a combinação de um cuidadoso tratamento medicamentoso com terapia cognitiva comportamental proporciona benefícios significativos em comparação com o tratamento apenas medicamentoso. Na análise do resultado final, crianças que haviam recebido tratamento combinado mostraram melhora maior que crianças tratados apenas com o medicamento. Além disso, as crianças de tratamento combinado tiveram uma redução significativa na dosagem do medicamento durante os 14 meses da pesquisa. Finalmente, pais e professores de crianças que receberam o tratamento combinado, estavam significativamente mais satisfeitos com o tratamento, diferença significativa também em termos de continuidade do tratamento.
Finalmente, a abordagem cognitiva começa com a educação sobre o transtorno (TDAH), para as crianças adolescentes, jovens e adultos portadores do referido transtorno assim como para pais, e professores desta população afetada e tem como objetivo ajudar o paciente, a família e os professores a compreenderem melhor os sintomas e prejuízos do transtorno como decorrente de uma doença, desfazendo rótulos prévios que geralmente acompanham esta criança.  Ex.: (preguiçoso, vagabundo, burro, incompetente, etc). neste sentido, as intervenções psicoeducativas também são importantes para melhorar a auto-estima dos pacientes, freqüentemente abalada após anos de impacto do transtorno. Da mesma forma, elas ajudam os pais a aprenderem estratégias para melhor lidar com as dificuldades de seus filhos.    
  • o comportamento das crianças reflete suas necessidades
  • afirme e reconheça os sentimentos dele e sua confiança na habilidade dele de fazer boas escolhas
  • use “o que” mais do que “por que” ao fazer perguntas
  • use  “quando.... então” ao invés de “se você não... você não”
  • dê espaço físico
  • aumente as interações construtivas.

terça-feira, 21 de setembro de 2010

O que é o Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade?


Entenda a hiperatividade com a ajuda do médico psiquiatra e psicoterapeuta Wimer Bottura Jr. 
POR CRISTIANE SENNA






Baixo rendimento escolar, alterações bruscas de humor, distração, impulsividade, instabilidade emocional. Se você reconhecer estes sintomas em seu filho, é sinal de que ele pode sofrer de Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade. Em entrevista, o médico psiquiatra e psicoterapeuta Wimer Bottura Jr. tirou algumas dúvidas sobre o distúrbio que mais confunde a cabeça de pais e atinge de 3% a 5% das crianças em todo o mundo.


Crescer Online - O que é o Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade?
Dr. Wimer Bottura Jr -
 É um transtorno caracterizado pela hiperatividade da criança, ou seja, é aquela ligada no 220W. Ela não consegue prestar atenção nas coisas e é inquieta.
Crescer Online - Como se diagnostica a hiperatividade em uma criança?
Dr. Bottura -
 Os diagnósticos são feitos mais por estatísticas do que por exames subsidiários. Existem exames que mostram que é uma disfunção do lobo frontal, relacionado com os neurotransmissores dopamina e noradrenalina.
Crescer Online - É correto afirmar que apenas crianças são hiperativas?
Dr. Bottura -
 Não, grande parte das crianças se transformam em adultos hiperativos se não tratados. Hoje, cerca de 50% a 60% de usuários de drogas são portadores de hiperatividade.
Crescer Online - Mesmo com tratamento?
Dr. Bottura -
 O universo de pessoas que se trata é muito baixo. Com tratamento, as pessoas têm grandes possibilidades de superar suas maiores dificuldades, portanto, teriam menos possibilidades de se tornar um usuário de drogas.
Crescer Online - Se uma criança é tratada adequadamente, ela se livra totalmente da doença?
Dr. Bottura -
 Cerca de 70% do casos de hiperatividade na infância continuam na vida adulta. A diferença é que muitas pessoas crescem hiperativas sem terem conseqüência na auto-imagem, auto-estima e auto-confiança. Elas saberão lidar com a hiperatividade e terão uma vida absolutamente normal.
Crescer Online - A hiperatividade afeta a inteligência ou o desenvolvimento emocional?
Dr. Bottura -
 Não afeta obrigatoriamente, mas pode, efetivamente, trazer muitos prejuízos a resultados acadêmicos e profissionais. Essas pessoas se acham e são tratadas como burras, mas não são. A criança, por exemplo, que é hiperativa pela a sua distração, inquietude e agitação, recebe muitos qualificativos destrutivos, como 'você não presta', 'você é mal educado'. Ela é castigada e muitas vezes humilhada, se expondo a uma série de coisas que a levarão a uma perda na auto-imagem, auto-estima e auto-confiança. Isso então é mais prejudicial do que a própria hiperatividade.
Crescer Online - Elas precisam de um tratamento diferenciado na escola, por exemplo?
Dr. Bottura -
 Muitas vezes sim.
Crescer Online - Como pais e professores têm de lidar com crianças hiperativas?
Dr. Bottura -
 Tem de ter consciência e levar em conta que há algo a ser tratado e não criticado. Ninguém tem culpa disso. Os pais devem procurar um profissional qualificado, além de terem uma boa orientação familiar. Isso aumenta as chances de a criança crescer sem problemas, embora seja hiperativo.
Crescer Online - Os pais fazem confusão na hora de diagnosticar um filho hiperativo? Qual a diferença entre o distúrbio e um comportamento bagunceiro ou desatento?
Dr. Bottura -
 Não é só os pais que ficam confusos, os profissionais também. O diagnóstico é, em parte, baseado em um questionário sobre o comportamento da criança, mas muitos sintomas são absolutamente normais na vida dela, como manifestações de inquietude ligadas à relação familiar. Se a pessoa já é adolescente ou adulto, pede-se que busque um outro diagnóstico, pois muitos transtornos apresentam sintomas de hiperatividade. O diagnóstico não é simples, qualquer suspeita deve ser encaminhada para de um profissional que possa determinar o transtorno com exatidão.
Crescer Online - Qual que é o tratamento ideal para a hiperatividade?
Dr. Bottura -
 Tratamento interdisciplinar, ou seja, que envolve mais de uma pessoa. Quando se configura o TDAH, o tratamento prioritário é o medicamento, pois sem ele a criança não consegue prestar atenção, se dedicar e ouvir, o que é essencial para que os outros tratamentos funcionem. Em segundo lugar, considero a orientação familiar muito importante. É necessário tratamento psicológico e psicopedagógico muitas vezes também.

Hoje quero falar sobre a criança TDAH


Hoje quero falar sobre a criança TDAH (Transtorno do Déficit da Atenção e Hiperatividade), porque falar do TDAH em um blog sobre o Bullying?
Porque eu como mãe/avó , de uma adolescente TDAH, de 13 anos,até hoje não vi uma familia feliz, completa, e o BULLYNG também existe para estás familias, os amigos se afastam, os parentes te isolam, você vive de mãos atadas rejeitada quando tem um TDAH dentro de sua casa, é como se você tivesse culpa, como se aquela criança tivesse optado por ser TDAH, a sociedade te marginaliza.... é triste, mas é real, é verdade eu tive 3 filhos, hoje todos adultos, minha neta que mora comigo desde o primeiro segundo de vida veio para que eu pudesse vivenciar  esta triste realidade.

Rita Elaine Vieira Garbim


"Quando se pensa em TDAH, a responsabilidade sobre a causa geralmente recai sobre toxinas, problemas no desenvolvimento, alimentação, ferimentos ou malformação, problemas familiares e hereditariedade. Já foi sugerido que essas possíveis causas afetam o funcionamento do cérebro e, como tal, o TDAH pode ser considerado um distúrbio funcional do cérebro. Pesquisas mostram diferenças significativas na estrutura e no funcionamento do cérebro de pessoas com TDAH, particularmente nas áreas do hemisfério direito do cérebro, no córtex pré-frontal, gânglios da base, c orpo caloso e cerebelo. Esses estudos estruturais e metabólicos, somados a estudos genéticos e sobre a família, bem como a pesquisas sobre reação a drogas, demonstram claramente que o TDAH é um transtorno neurobiológico. Apesar da intensidade dos problemas experimentados pelos portadores do TDAH variar de acordo com suas experiências de vida, está claro que a genética é o fator básico na determinação do aparecimento dos sintomas do TDAH.
O Transtorno de Déficit de Atenção/Hiperatividade (TDAH) é caracterizado por uma constelação de problemas relacionados com falta de atenção, hiperatividade e impulsividade. Esses problemas resultam de um desenvolvimento não adequado e causam dificuldades na vida diária. O TDAH é um distúrbio bio-psicossocial, isto é, parece haver fortes fatores genéticos, biológicos, sociais e vivenciais que contribuem para a intensidade dos problemas experimentados. Foi comprovado que o TDAH atinge 3% a 5% da população du rante toda a vida. Diagnóstico precoce e tratamento adequado podem reduzir drasticamente os conflitos familiares, escolares, comportamentais e psicológicos vividos por essas pessoas. Acredita-se que, através de diagnóstico e tratamento corretos, um grande número dos problemas, como repetência escolar e abandono dos estudos, depressão, distúrbios de comportamento, problemas vocacionais e de relacionamento, bem como abuso de drogas, pode ser adequadamente tratado ou, até mesmo, evitado.
Até a algum tempo atrás, pensava-se que os sintomas do TDAH diminuíam com a adolescência. As pesquisas mostraram que a maioria das crianças com TDAH chega à maturidade com um padrão de problemas muito similar aos da infância e que adultos com TDAH experimentam dificuldades no trabalho, na comunidade e com suas famílias. Também há registros de um número maior de problemas emocionais, incluindo depressão e ansiedade.
O Transtorno de Déficit de Atenção/Hiperativi dade (TDAH) é responsável pela enorme frustração que pais e seus filhos portadores desse distúrbio experimentam a cada dia. Crianças, adolescentes e adultos hoje diagnosticados com TDAH são freqüentemente rotulados de "problemáticos", "desmotivados", "avoados", "malcriados", "indisciplinados", "irresponsáveis" ou, até mesmo, "pouco inteligentes". A maioria daquilo que lemos ou ouvimos sobre o assunto tem uma conotação negativa. A razão disso é o fato deste transtorno continuar sendo pouco conhecido, apesar dos estudos a respeito terem se intensificado nas últimas décadas e a prática ter mostrado que 3% a 5% das crianças em idade escolar podem ser incluídas nesse diagnóstico.
Rohde & Mattos, et. al., argumentam em seu livro “Princípios e práticas em TDAH” (2003, p. 35) que:
O estudo da etiologia do transtorno de déficit de atenção/hiperatividade (TDAH) vem sendo objeto de muitas pesquisas, especialmente a partir do início da décad a de 90. Apesar do grande número de estudos já realizados, as causas precisas do TDAH ainda são desconhecidas. Entretanto, a “influência de fatores genéticos e ambientais no seu desenvolvimento é amplamente aceita na literatura”(Tannock, 1998) . Embora a contribuição genética seja substancial, é improvável que exista “o gene do TDAH’, causador desse fenótipo e fundamental em todos os casos da doença. Ao contrário, como ocorre na maioria dos transtornos psiquiátricos, acredita-se que vários genes de pequeno efeito sejam responsáveis por uma vulnerabilidade (ou suscetibilidade) genérica ao transtorno, à qual somam-se diferentes agentes ambientais. Dessa forma, o surgimento e a evolução do TDAH, em um individuo, parecem depender de quais genes de suscetibilidade estão agindo e de quando cada um deles contribui para a doença, ou seja, qual o tamanho do efeito de cada um, (e da interação desses genes entre si e com o ambiente).
A preocupaçã o vem-se refletindo cada vez mais nas pesquisas com TDAH. É bastante complexa a discussão das causas que estão implicadas na determinação da desatenção e hiperatividade. Como nos demais distúrbios do desenvolvimento, existe também nessa condição toda uma multiplicidade de fatores que poderão estar interferindo e nem sempre serão os mesmos para todas as crianças. 
Para Rohde e Mattos (op. cit., 2003, p. 36-47), “a heterogeneidade etiológica provavelmente estará reduzida, permitindo diferenciar casos mais familiais de outros menos familiais evidenciando diferentes fatores etiológicos”. Fatores Ambientais: Agentes psicossociais que atuam no funcionamento adaptativo e na saúde emocional geral da criança, tais como desentendimentos familiares e presença de transtornos mentais nos pais, parecem ter participação importante no surgimento e na manutenção da doença, pelo menos em alguns casos. Os autores citam ainda Biederman e colaboradores (1995 b) relatam que:
[...] encontraram uma associação positiva entre algumas adversidades psicossociais, tais como discórdia marital severa, classe social baixa, família muito numerosa, criminalidade dos pais, psicopatologia materna e colocação em lar adotivo, e o TDAH. Esse mesmo grupo, comparando famílias com e sem TDAH encontrou uma maior freqüência de coesão familiar diminuída e exposição à psicopatologia dos pais, principalmente materna, nas que tinham o transtorno em estudo. 
A procura pela associação entre TDAH e complicações na gestação ou no parto tem resultado em conclusões divergentes. Mas tende a dar suporte à idéia de que complicações (toxemia, eclampsia, pós-maturidade fetal, duração do parto, estresse fetal, baixo peso ao nascer, hemorragia pré-parto, má saúde materna) predisponham ao transtorno. 
É importante ressaltar que a maioria dos estudos sobre possíveis agentes ambientais apenas evidencia uma associação desses fatores com o TDAH, não sendo possível estabelecer uma relação clara de causa e efeito entre eles.
O estudo da genética do TDAH, assim como em qualquer outro transtorno psiquiátrico, envolve dois tipos diferentes de investigações: os chamados estudos genéticos clássicos e os estudos moleculares. Os estudos clássicos compreendem as pesquisas com famílias, com gêmeos, com adotados e as análises de segregação. É por meio desse tipo de estudo que se confirma a existência de um componente genético determinado ou influenciando na característica (ou transtorno) em questão. Essas abordagens também permitem estimar o tamanho do efeito desse componente no fenótipo e como ocorre a sua transmissão. Uma vez que a participação de fatores genéticos na doença tenha sido sugerida pelos estudos epidemiológicos, o próximo passo então, é definir quais genes estão envolvidos. Esses resultados mais específicos são alcançados com os estudos moleculares, em que possíveis marcadores genéticos ou os chamados genes candidatos (genes possivelmente relevantes para a neurobiologia da característica ou doença) são investigados por intermédio de diferentes tipos de análises.
Saul Cypel em sua obra “A criança com Déficit de Atenção e Hiperatividade” (2003, p. 29-30) relata que:
Alguns trabalhos na literatura médica sugerem possíveis determinantes genéticos. Por exemplo, foi observado que gêmeos monozigóticos mostraram maior incidência de DA/H que os dizigóticos. Safer realizou um estudo interessante, em 1989, observando maior incidência de hiperatividade entre irmãos completos que em meios irmãos. Outras referências destacam a presença de crianças hiperativas em famílias cujos pais apresentavam prevalência acentuada de problemas psiquiátricos, quando comparados com pais de crianças normais. Curiosamente, os mesmo distúrbios foram referidos em pais não-biológicos de crianças adotivas e hipera tivas, relativizando a influência do fator genético. Essas observações permitem inferir que mesmo havendo a possibilidade de participação de um fator genético, é muito provável que outros fatores familiares e ambientais intervenham na determinação da DA/H.
Nos últimos anos, um interesse crescente vem surgindo em relação aos estudos moleculares do TDAH. Não se espera entretanto, que exista “o gene do TDAH”, nem se acredita em uma mutação específica responsável por esse fenótipo e fundamental em todos os casos da doença. Em transtornos como o TDAH, o mais provável é que os fatores genéticos envolvidos, sejam, na verdade, variantes funcionais aparentemente normais de genes conhecidos, e que uma combinação particular de alelos seja necessária para conferir suscetibilidade. A definição de dois genes candidatos baseia-se em diferentes tipos de evidências, como as que sugerem o envolvimento de rotas bioquímicas ou processo biológicos especí ficos. “Em geral, quando existem essas hipóteses, os genes relacionados em tais processos são os alvos iniciais na busca por genes de suscetibilidade” [...] (Rode & Mattos, op cit. 2003, p.46)
Ana Beatriz B.Silva, em sua obra “Mentes inquietas” (2003 p. 192), nos direciona na busca do conforto vital – tratamento do déficit de atenção, como a importância da individualidade e do conforto social.
Em Psiquiatria, muito mais do que nas outras especialidades médicas, as discussões sobre os conceitos de causa, doença, saúde, cura e tratamento sempre provocaram grandes confrontos de posições que ultrapassam os limites da “ciência médica” e enveredaram por campos diversos como o da filosofia, da política e até da religião. Fato completamente justificado por se tratar de uma especialidade que não lida apenas com células, tecidos, genes, órgãos e enzimas, mas também com a enigmática e complexa mente humana.
Enfatiza a terapia que investiga os pensamentos e crenças e passa a examinar sua veracidade e funcionalidade com base em dados reais.
Apresenta argumentos racionais e baseados em evidências, eleva o paciente a ponderar cuidadosamente sobre sua forma de pensar e interpretar os eventos. Assim o terapeuta precisa saber conduzir o paciente DDA, baseado em evidências concretas, a reformular alguns conceitos negativos de si mesmo, que acabam levando-o sempre a interpretar as situações como mais perigosas e ameaçadoras do que na realidade, trazendo, conseqüentemente, um grau de sofrimento significativamente desproporcional aos problemas enfrentados em seu cotidiano 
Os autores Sam Goldstein e Michael Goldstein nos seus estudos publicados no livro “Hiperatividade: Como desenvolver a capacidade de atenção da criança” (2003), atribuem varias causas e para entendê-las analisam: traumas durante o parto, distúrbios clínicos, distúrbios convulsivos, efeitos colaterais de medicamentos , dieta alimentar, o chumbo: que por sua ingestão pode envenenar o sistema energético humano, infecções de ouvido, hereditariedade e lesões cerebrais.
Uma criança normal é capaz de se concentrar, prestar atenção e agir deliberadamente em algumas circunstâncias, apesar de ser impulsiva, ter raciocínio rápido e agir com rapidez em outras. o centro de atenção estria trabalhando para aumentar a concentração da criança e diminuir a sua dispersão durante as aulas para que ruídos e eventos externos não impeçam que ela preste atenção e complete seu trabalho. Entretanto, fora da sala, no pátio da escola, um jogo de basebol exige uma resposta rápida a uma bola lançada a ela, como uma reação impulsiva. Esse modelo cerebral permite-nos ver as crianças hiperativas como possuidoras de centro de atenção que não está funcionando bem [...]. O mau funcionamento do centro de atenção pode, portanto, ser considerado como uma das casas do comportamento hipe rativo (p. 64-65).
Enfatizamos assim o uso do modelo de centro de atenção para explicar a hiperatividade, pois, os pais podem entender a causa da hiperatividade em termos de função cerebral. Parece que os centro de atenção podem ser afetados por fatores hereditários e ambientais. Os tratamentos para a hiperatividade, tanto por mudanças no comportamento como por medicamentos, podem ser compreendidos na medida em que influenciam o centro de atenção interior do cérebro.
O Transtorno de Déficit de Atenção/Hiperatividade tem várias possíveis causas. O conhecimento científico sobre as causas e suas influências sobre o cérebro e o comportamento humano tem aumentado muito nas últimas duas décadas. Ainda assim é inicial o nosso conhecimento. Para Benczik (2003, p. 30), “temos mais hipóteses do que certezas sobre o assunto”. Coloca como possíveis fatores etiológicos: a Hereditariedade, Substâncias ingeridas na gravidez, Sofrimento fetal, Exposi� �ão a chumbo e Problemas familiares, deixando como mitos: algo na alimentação, algum problema hormonal e problemas com a iluminação do ambiente. 
Devido à atenção ser multidimensional em sua natureza, pode esperar-se encontrar crianças que têm déficits primários, em uma dimensão ou componente de atenção e menores em outras dimensões, ou, ainda, não ter déficits em nenhuma dimensão de atenção. Isto é provável de acontecer na prática clínica. Entretanto, nós conhecemos muito pouco sobre a natureza das deficiências de alguns componentes da atenção .
Para autores como Cypel (op.cit. 2003, p. 34), “os fatores emocionais são de grande importância na determinação e continuidade dos quadros de DA/H” .É curioso como os compêndios médicos dão pouca ênfase a esses aspectos, fazendo escassas referências em poucas linhas à participação dos fatores afetivos, procurando atribuir todo o quadro a disfunções cerebrais e/ou bioquímicas . Como em todas as atividades funcionais do sistema nervoso, também durante as manifestações emocionais e do comportamento do indivíduo a transmissão do estímulo nervoso de um neurônio para outro é realizada com a participação de substâncias neurotransmissoras. Poder-se-ia cogitar que nos casos de DA/H o equilíbrio entre neurotransmissores inibidores e excitadores estaria modificado. Entretanto, existe uma diferença entre esse desequilíbrio estar ocorrendo por uma alteração primária nas concentrações das catecolaminas, ou ser uma conseqüência do somatório das vivências emocionais ou situacionais que cercam a vida da criança no seu dia-a-dia. Isto é, no primeiro caso estaria ocorrendo uma redução na concentração desses neurotransmissores na fenda sináptica, devido a algum defeito no sistema nervoso (malformação, lesão, etc.). Já na segunda eventualidade, as alterações na concentração dos neurotransmissores seriam decorrentes das modifica� �ões neuroquímicas conseqüentes à dinâmica emocional de cada indivíduo.
O estudo da etiologia do TDAH ainda está na sua “infância”. Mesmo em relação à genética, intensamente investigada, os resultados são contraditórios, e nenhum gene, nem mesmo o DRD4 ou o DAT1, pode ser considerado como necessário ou suficiente para o desenvolvimento desse transtorno. Este panorama se deve, em grande parte, a uma heterogeneidade etiológica ímpar, representada pela alta complexidade clínica da doença. O futuro do estudo da etiologia do TDAH envolve, certamente, a definição de possíveis “subfenótipos” nos quais essa heterogeneidade esteja reduzida, estratégia ainda pouco utilizada nas investigações, sendo também necessárias múltiplas replicações de achados positivos em amostras de diferentes países antes de se aceitar um agente ambiental ou um gene candidato como fator de suscetibilidade. A identificação dos possíveis fatores genéticos e ambie ntais é fundamental, uma vez que essa informação está diretamente relacionada ao esclarecimento da patofisiologia do TDAH e, conseqüentemente, ao seu tratamento e prevenção. Um maior conhecimento permitirá uma melhor caracterização de diferentes tipos da doença, determinando condições mais específicas, e, portanto, mais eficazes de tratamento. Além disso, a vulnerabilidade ao TDAH poderá ser detectada precocemente, possibilitando-se, assim, o desenvolvimento de estratégias de prevenção. O avanço nas pesquisas sobre a etiologia do TDAH será extremante relevante para a prática da psiquiatria da infância e da adolescência, bem como para os próprios pacientes e suas famílias.
Meu filho está agora com 17 anos, foi diagnosticado ainda na escola com 3 anos, não se deu bem com a ritalina, faz tratamento psicologico. Os resultados são lentos.
É muito difícil conviver com esta situação. Vc tem que controlar todos os seus instintos, tem que ul trapassar os limites da compreenção, e sempre na esperança de uma nova descoberta de cura.
Tenho um amplo levantamento sobre o caso. O detalhado acima é o início de um trabalho de doutorado que participei. Assim que soubemos (eu e minha mulher) além de procurarmos ajuda médica, pesquisamos a fundo a literatura existente sobre o assunto e podemos dizer com absoluta certeza "A matéria continua em estudo, por ora é inconcludente". 
Ps. Inconcludente, tanto psicologicamente como fisiologicamente.

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Resenha do Livro: Fenômeno bullying: como prevenir a violência nas escolas e educar para a paz







Resenha do Livro:
Fenômeno bullying: como prevenir a violência nas escolas e educar para a paz


INTRODUÇÃO
Esta resenha é sobre o livro de Cleo Fante que nos leva a conhecer o fenômeno bullying, violência velada ou explícita existente nos segmentos sociais, principalmente no ambiente escolar, objetivo deste estudo. Nos leva refletir sobre as causas e efeitos do fenômeno, os quais podem marcar prejudicialmente o psicológico, emocional e sócio-educacional do indivíduo. Também esclarece sobre os diferentes tipos de violência, vitimas e comportamentos. Por fim faz uma analise sobre o papel da escola e dos profissionais de educação e busca formas de prevenção desta violência.


RESENHA
FANTE, Cleo. Fenômeno bullying: como prevenir a violência nas escolas e educar  para a paz. 2. ed. rev. e ampl. Campinas, SP: Verus, 2005.
Cátia Simone Cristofoli [1]
Marta Gomes de Campos 1

A autora Cleo Fante, na introdução do seu livro, mostra-se preocupada com o crescimento da violência entre alunos, não é só a violência explícita, mas conforme a autora principalmente a “violência que se apresenta de forma velada, por meio de um conjunto de comportamentos cruéis, intimidadores e repetitivos, prolongadamente contra uma mesma vítima” (p. 21). Esta violência pode acarretar danos emocionais e psicológicos nos envolvidos com sequelas no decorrer de suas vidas. Também coloca a importância de estratégias para combater esta violência, visto que essa é responsável pela violência explícita que normalmente é geradora de preocupação e debates quando divulgados na mídia.
São relatadas pela autora algumas tragédias escolares de alguns países, inclusive no Brasil, também aponta possíveis causas dessas tragédias.
Cleo Fante inicia o primeiro capítulo definindo o fenômeno bullying de tal forma a não ser confundido com outras formas de violência, trazendo como definição universal “um conjunto de atitudes agressivas, intencionais e repetitivas que ocorrem sem motivação evidente, adotado por um ou mais alunos contra outro(s), causando dor, angústia e sofrimento” (p. 28).
Na sequência desse capítulo, a autora apresenta alguns casos da pesquisa de alunos de pós-graduação na qual relatam essas situações de violência vividas por alunos. Trazem depoimentos de vítimas colhidos na pesquisa, casos narrados por outros pesquisadores que estudam o assunto e casos divulgados nos meios de comunicação.
Ela relata que o fenômeno é muito antigo, esteve sempre presente em todas as escolas do mundo, sendo de conhecimento dos educadores, mas o interesse iniciou por volta de 1970, na Suécia, e a partir daí se estendeu por vários países. Coloca também que, no Brasil, é ainda pouco falado e estudado, e devido a esses fatos não se tem indicadores que permitam a comparação com outros países.
A autora traz quatro estudos de casos, os quais levam a concluir que a maior ocorrência do fenômeno bullying é na escola, independente do tipo de escola, pública ou particular, e de série, apesar de, muitas vezes, ser negado pelas mesmas. Também relata que esse fenômeno se desenvolve mais em sala de aula, lugar de muitos conflitos e agressões, onde se observa comportamentos repetitivos, num período prolongado de tempo e sempre contra uma mesma vítima. Conclui também que o agressor pode agir sozinho ou coletivamente, ele se impõe favorecido pela sua força física ou psicológica, vitimando com preferência os mais fracos. As causas desse comportamento agressivo podem ser segundo a autora, a carência afetiva, a ausência de limites e a reprodução de maus tratos sofridos.
As vítimas, por sua vez, se calam por vergonha ou medo, os familiares com medo e com a intenção de protegem a vítima, só vão agir quando a situação já está muito grave, assim como seus colegas que se calam por medo ou coação, e os professores não estão preparados para detectar este problema.
Os personagens dessa violência podem ser:
- Vítima típica: que não consegue se impor nem física nem verbalmente, não são agressivos.
- Vítima provocadora: provoca e atrai brigas.
- Vítima agressora: transfere os maus tratos sofridos para outros.
- Agressor: faz os mais fracos de vítima;
- Espectador: aquele que nem pratica e nem sofre, só assiste.

Nesse capítulo, Fante descreve alguns comportamentos típicos que vítimas e agressores apresentam, para que pais e professor possam observar e assim consigam identificá-los. Também faz recomendações aos pais, para que estes fiquem atentos ao comportamento de seus filhos e reflitam sobre a educação que estão oferecendo em casa.
A autora evidencia que as conseqüências podem atingir as vítimas do fenômeno não somente na época escolar, mas posteriormente no trabalho, na formação da família, na criação dos filhos e inclusive na saúde física e mental. Também coloca que o agressor pode partir para o mundo da criminalidade e das drogas.
No final do primeiro capítulo, a autora apresenta alguns programas antibullying desenvolvidos mundialmente, incluindo o Brasil, que segundo ela, desenvolve projetos para combater a violência explícita, porém muito pouco para combater e prevenir o fenômeno bullying.

                                  
Podemos constatar que o fenômeno bullying é um mal que atinge todas as escolas, independente da classe social, e aqui no Brasil, pouca coisa está sendo feita para tratar e reduzir esse fenômeno. O que as escolas vêm fazendo é se proteger da violência com seguranças, com grades, etc..
Verificamos que, para reduzir este fenômeno, temos que envolver toda a comunidade escolar e principalmente os pais, que são os responsáveis pela educação familiar. O professor deverá estar atento, independente do ciclo em que atua, pois, desde as séries iniciais, as condutas de bullying já podem ser percebidas. Por sua vez, ele está pouquíssimo preparado para reconhecer, verificar e criar estratégias para enfrentar os problemas bullying.
No segundo capítulo, a autora sugere o Programa Educar para a Paz como estratégia de intervenção e prevenção ao fenômeno bullying, com o propósito de diminuir a violência nas escolas. Para isso, esquematiza em duas etapas, dividas em passos e estratégias que devem ser seguidas. A primeira etapa é sobre o conhecimento da realidade escolar, em que deverá conscientizar toda a comunidade escolar, informando que o fenômeno atinge todas as escolas e que a partir dele é gerado outros tipos de violências. Após a reflexão desencadeada por essa estratégia, escolher a comissão do programa. A segunda etapa consiste em modificar a realidade escolar, sendo sugerido, pela autora, trabalhar o respeito mútuo, a tolerância, a solidariedade, o compartilhar sem competir, com atividades simples, como leituras de textos, poemas, etc. Também sugere um conjunto de estratégias como: serviços de denúncias, encontros semanais para avaliação e outros.
Acreditamos que o primeiro passo para tratar desse assunto seja, realmente, a conscientização de que o fenômeno BULLYING existe e acontece, em todas as escolas, no mundo todo. Precisamos “parar”, conhecer a realidade onde nossas escolas estão inseridas e priorizar valores, tais como tolerância, solidariedade, compreensão, respeito mútuo, entre outros. Esses valores e princípios precisam ser apreendidos, tanto na escola, como no ambiente familiar e, principalmente, aplicados em todos os ambientes.
Este programa, “Educar para a paz” só será possível com o engajamento de toda a comunidade (ESCOLA e FAMÍLIA). Sendo o objetivo comum de toda a comunidade, acreditamos que sua aplicação se efetivará e com excelente resultado.
                                  
Cleo Fante coloca no último capítulo as definições de violência e classifica quanto ao grau, forma, tipo, nível, determinantes, suas conseqüências e também classifica a agressividades.
Apresenta várias teorias sobre o comportamento agressivo e conclui dizendo que este comportamento “surge como resultado de uma elaboração afetivo-cognitivo” (página 167).
Expõe os fatores que favorecem um ambiente de agressividade nas escolas, colocando como os externos o contexto familiar, social e os meios de comunicação; e os internos, o clima da escola, as relações interpessoais e as características individuais. Também coloca que os profissionais da educação deveriam se preocupar em proporcionar um ambiente escolar prazeroso que estimula o diálogo, o respeito ao próximo e, principalmente, o afeto.
Parece-nos que a questão mais evidente e urgente, além da informação sobre teorias relativas à violência e à agressividade, seja os questionamentos que estão postos neste capítulo.
A escola detém-se, por demais, em questões estritamente cognitivas e disciplinares (contenção). Com o fato de bons profissionais, preocupados com o todo (aluno, disciplina, escola, hábitos/atitudes, valores, etc), não serem tão valorizados como deveriam, diminui-se a relação de afeto que deve existir nas relações interpessoais.
O que realmente fazemos para “encantar” o aluno pela escola?
Cleo Fante conclui seu livro afirmando que, até o momento, é impossível eliminar a violência social, mas é possível reduzi-la com estratégias que envolvam toda a comunidade escolar. Estratégias essas bem planejadas, com investimentos sérios em educação e com a ajuda da família.
A obra que nos referimos é uma valiosa contribuição à nossa prática pedagógica, pois através dela nos foi alertado sobre as condutas bullynig e também a utilizar o Programa Educar para a Paz como proposta para reduzir o fenômeno.
Acreditamos que para prevenir as condutas bullying é importante trabalhar valores como o afeto, a tolerância e a solidariedade, valores básicos de um ser humano em seus mais diversos aspectos. Sendo que estes deveriam ser estabelecidos primordialmente na família através do dialogo e limites.
Sabemos que a escola é um ambiente muito importante para reforçar estes valores. Porém muitas vezes não é o que acontece, devido ao fato de que os pais não fazem o papel que lhes cabem, transferindo a tarefa ao professor, e este, no entanto não está preparado para suprir esta deficiência.
O professor necessita de uma direção que se envolva e ajude a ter uma relação mais afetiva com o aluno, pois a valorização dos laços afetivos no ambiente escolar é importante tanto para a expressão do aluno, quanto para o controle da violência na escola e, por conseqüência a longo prazo, na sociedade como um todo.
No entanto, o que frequentemente encontramos é uma direção omissa que outorga ao professor toda a responsabilidade de tratar e solucionar os problemas dentro da sala de aula, contribuindo com o fenômeno bullying.


BULLYING: conhecendo a face oculta da violência

 

BULLYING: conhecendo a face oculta da violência




RESUMO

Bullying em inglês pode significar tirania ou intimidação e compreende todas as atitudes agressivas, intencionais que ocorrem sem motivação evidente e dentro de uma relação desigual de poder. Por se tratar de um problema mundial que afeta, principalmente, a população infantil e juvenil e, portanto, tem implicações na prática educativa, suas diferentes manifestações têm preocupado pais e educadores. Considerando tal situação esse trabalho se propõe a desenvolver uma revisão bibliográfica, com o objetivo de conhecer e ao mesmo tempo divulgar esse fenômeno junto à comunidade, em termos de suas conseqüências sobre aqueles que são alvos dessa violência, bem como sobre o que as praticam. Também busca-se apresentar programas mundiais existentes e voltados para a sua prevenção.
Palavras – chave: bullying, anti–bullying, escola, alunos, pais e professores.


A paz invadindo meu coração
De repente me encheu de paz
Como se o vento de um tufão
Arrancasse meus pés do chão
(Gilberto Gil)


INTRODUÇÃO


As diferentes manifestações de violência vêm adquirindo cada vez mais importância e dramaticidade na sociedade brasileira, especialmente a partir da década de oitenta. Muitas são as suas expressões, os sujeitos envolvidos e as conseqüências. O freqüente envolvimento da população infantil e juvenil com esta realidade ocupa de maneira crescente, as páginas da imprensa falada e escrita. Tal problemática tem muitas implicações do ponto de vista da prática educativa e suas diferentes manifestações têm preocupado, de forma especial, pais e educadores.
Ao analisar o fenômeno da violência vemo-nos diante de uma série de dificuldades, não apenas porque o fenômeno é complexo, mas, principalmente, porque ele nos faz refletir sobre nós mesmos, sobre nossos pensamentos, sobre nossos sentimentos e atos.
            Esse fenômeno, conhecido como Bullying, compreende todas as formas de atitudes agressivas, intencionais e repetidas, que ocorrem sem motivação evidente, adotadas por um ou mais estudantes contra outros, causando dores e angústias, e executadas dentro de uma relação desigual de poder (CONSTANTINI, 2004).
            O Bullying acompanha a humanidade desde a pré-história, porém começou a ser pesquisado há cerca de vinte anos na Europa, quando se buscou conhecer o que estava por trás de muitas tentativas de suicídio entre adolescentes.
            O primeiro a relacionar a palavra ao fenômeno foi San Olweus, professor da Universidade da Noruega. Na década de oitenta, Olweus ao pesquisar as tendências suicidas entre adolescentes concluiu que a maioria desses jovens tinham sofrido algum tipo de ameaça.
            “Bullying”, que em inglês pode significar tirania, ameaça ou intimidação, não possui no Brasil, segundo Monteiro (2003), uma palavra que o defina. Em geral, referem-se à maus-tratos, opressão e humilhação que acontecem, entre jovens e crianças.
            O Bullying já se tornou um problema mundial, sendo encontrado em qualquer tipo de escola: primária ou secundária, pública ou privada. Esse fenômeno estimula a delinqüência e induz a outras formas de violência explícita como destaca, Fante (2005). Na maioria das vezes, os autores do Bullying são indivíduos que têm pouca empatia, freqüentemente pertencem à famílias desestruturadas, com pouco relacionamento afetivo entre seus membros, por isso têm grande probabilidade de se tornarem adultos com comportamento anti-social e/ou violento.
O objetivo do estudo é conhecer mais aprofundadamente o fenômeno Bullying e suas conseqüências sobre aqueles que são alvos desse tipo de violência, destacando estudos já realizados em diversos países, bem como programas de prevenção elaborados e desenvolvidos.
Por se constituir em um estudo bibliográfico, cuja “finalidade é conhecer diferentes contribuições científicas sobre o assunto” e ainda “revisar a literatura existente” (GONÇALVES, 2005, p. 58) os dados foram coletados em materiais já elaborados e publicados sobre o fenômeno Bullying em livros, artigos científicos, páginas da WEB, etc.
A importância de se conhecer mais aprofundadamente o fenômeno “bullying”, no contexto da educação, volta-se para a diminuição da violência nas escolas de nosso país, principalmente por sua especificidade, implicações e conseqüências nefastas, visto que acarreta enorme prejuízo à formação psicológica, emocional e sócio-educacional do indivíduo vitimizado (CAVALCANTE, 2004).
Assim, este texto está organizado da seguinte forma: primeiramente um histórico do fenômeno Bullying, sua conceituação e as características de seu desenvolvimento. Em seguida, conseqüências desse fenômeno e as estratégias mais adequadas por sua redução. A partir daí serão apresentados alguns programas anti–Bullying em desenvolvimento em diversos países e as considerações finais.

1. BULLYING

 

1.1 Histórico do fenômeno

Como já destacado o fenômeno Bullying, refere-se às formas de agressão, intencionais e repetidas, sem motivação evidente e numa relação desigual de poder, provocando angústias desencadeadas por um ou mais estudantes contra outro(s). Sendo assim, os atos repetidos entre iguais (estudantes) e o desequilíbrio de poder constituem, segundo Fante (2005), as características essenciais, que tornam possível a intimidação da vítima.
Na Europa, durante a década de 90, ocorreu um número considerável de pesquisas e campanhas que conseguiram reduzir a incidência de comportamentos agressivos nas escolas. Diante disso, diversos pesquisadores em todo o mundo têm direcionado seus estudos para esse fenômeno que toma volumes preocupantes, tanto pelo seu crescimento entre os jovens, quanto por atingir faixas etárias cada vez mais baixas, inclusive relativas aos primeiros anos de escolaridade.
Os trabalhos do Prof. Dan Olweus, na Universidade de Bergen – Noruega (1978 a 1993) foram os primeiros dentro dessa temática. Quando Dan Olweus iniciou suas investigações nas escolas sobre o problema dos agressores e suas vítimas esse assunto não era de interesse das instituições. Na década de 80, três meninos entre 10 e 14 anos, cometeram suicídio. Foi a partir daí, que o assunto despertou o interesse e a atenção das instituições de ensino (CONSTANTINI, 2004).
Olweus pesquisou inicialmente cerca de 84.000 estudantes, 300 a 400 professores e 1.000 pais entre os vários períodos do ensino norueguês. Um fator fundamental para a sua pesquisa sobre a prevenção do Bullying foi avaliar a sua natureza e ocorrência.
Nos primeiros resultados, Olweus e Roland (1989) informaram os primeiros resultados onde verificou-se que 1 em cada 7 estudantes estava envolvido em caso de Bullying. Em 1993, com a publicação do livro “Bullying at School” origina-se uma Campanha Nacional, anti-bullying com o apoio do Governo Norueguês, que consegue reduzir em cerca de 50% dos casos nas escolas. Este programa tinha como características principais desenvolver regras claras contra o Bullying nas escolas, alcançar um envolvimento ativo por parte de professores e pais, aumentar a conscientização do problema, avançando no sentido de eliminar alguns mitos sobre o fenômeno e prover apoio e proteção para as vítimas.
O sucesso e a repercussão dessa ação em outros países, como o Reino Unido, Canadá e Portugal, incentivou tanto o desenvolvimento de outras ações nessa direção, como também mais estudos sobre o fenômeno.
Para se conhecer e refletir sobre o Bullying, é imprescindível promover a orientação, a conscientização e a discussão a respeito do assunto. Nem toda briga ou discussão deve ser rotulada como Bullying, para não se cair no extremo oposto da tolerância zero, o que não irá permitir às crianças e jovens, em fase de desenvolvimento, aprenderem a viver harmoniosamente em grupo. A diferença entre um comportamento aceito e um abuso, às vezes, é muito tênue e cada caso deve ser observado e analisado segundo sua constância e gravidade.

 

1.2. O que é Bullying?: conceituação e características.

            Bullying é uma palavra de origem inglesa adotada em muitos países para definir o desejo consciente e deliberado de maltratar uma outra pessoa e colocá-la sob tensão; é um termo que conceitua os comportamentos agressivos e anti-sociais, utilizado pela literatura psicológica nos estudos sobre o problema da violência escolar (FANTE, 2005).

O termo Bullying tem origem na palavra inglesa bully, que significa valentão, brigão. Como verbo, significa ameaçar, amedrontar, tiranizar, oprimir, intimidar, maltratar, (...). Ainda não existe termo equivalente em português, mas alguns psicólogos estudiosos do assunto o denominam “violência moral”, “intimidação” ou “maltrato entre pares”, uma vez que se trata de um fenômeno de grupo em que a agressão acontece entre iguais – no caso, estudantes (CAVALCANTE, 20004, P. 60).

Trata-se, portanto, de um comportamento ligado à agressividade física, verbal ou psicológica. É uma ação de transgressão, exercida de maneira continuada, por parte de um indivíduo ou de um grupo de jovens definidos como intimidadores nos confrontos com uma vítima predestinada. Sobre esses comportamentos, às vezes considerados irrelevantes, pesa de maneira decisiva a ausência de intervenção por parte dos adultos (CONSTANTINI, 2004).
Por não existir uma palavra na língua portuguesa capaz de expressar todas as situações de BULLYING possíveis, Fante (2005), elaborou um quadro, apresentado a seguir, no qual relaciona ações que podem expressar esse fenômeno.


§         Colocar apelidos;
§         Ofender;
§         Zoar;
§         Gozar;
§         Encarnar;
§         Sacanear;
§         Fazer sofrer;
§         Discriminar;
§         Excluir.
§         Perseguir;
§         Assediar;
§         Aterrorizar;
§         Amedrontar;
§         Humilhar;
§         Agredir;
§         Bater;
§         Chutar;
§         Empurrar.
§         Isolar;
§         Ignorar;
§         Intimidas;
§         Chutar;
§         Empurrar;
§         Ferir
§         Roubar
§         Quebrar pertences.



           







É até considerando comum, entre os alunos de uma sala de aula, a existência de diferentes tipos de conflitos, tensões e interações agressivas apresentadas ou motivadas como diversão ou como forma de auto-afirmação e, também, para a comprovação das relações de força que os alunos estabelecem entre si (CONSTANTINI, 2004). No entanto, essas maneiras de ridicularizar o colega não são apenas “coisas de estudantes”.
Em seus estudos sobre o desenvolvimento do Bullying, o Professor Olwes, percebeu determinadas características comuns que poderiam evidenciar o fenômeno. Seriam elas: comportamentos produzidos de forma repetitiva num período prolongado de tempo contra uma mesma vítima; uma relação de desequilíbrio de poder, o que dificulta a defesa da vítima; ocorrência sem motivações evidentes; reações deliberadas e danosas.
A pesquisa mais extensa sobre essa temática foi desenvolvida na Grã Bretanha, e registra que 37% dos alunos do primeiro grau e 10% do segundo grau admitem ter sofrido Bullying, pelo menos, uma vez por semana.
No Brasil, um estudo realizado pela ABRAPIA – Associação Brasileira Multiprofissional de Proteção à Infância e Adolescência – em 2002, envolvendo 5875 estudantes de 5ª a 8ª séries, de onze escolas localizadas no município do Rio de Janeiro, revelou que 40,5% desses alunos admitiam ter estado diretamente envolvidos em atos de Bullying, naquele ano, sendo 16,9% alvos, 10,9% alvos/autores e 12,7% autores dessas ações.
Os meninos, com uma freqüência muito maior, estão mais envolvidos com o Bullying, tanto como autores quanto como alvos. Já entre as meninas, ele ocorre e se caracteriza, principalmente, como prática de exclusão ou difamação (NOGUEIRA, 2006).

De modo geral, entre os meninos é mais fácil identificar um possível bullying, pois suas ações são mais expansivas e agressivas. Eles chutam, gritam, empurram, batem. São os fortões, os temíveis. Já no universo feminino, o problema se apresenta de forma mais velada. As manifestações entre elas podem ser fofoquinhas, boatos, olhares, sussurros, exclusão (CAVALCANTE, 2004, p.6).

Isso significa que no ambiente escolar, por meio da observação e da discussão sobre o comportamento individual dos alunos, os professores e outros profissionais podem identificar os alvos e os agressores.
            Normalmente, os estudiosos do Bullying destacam a existência de três tipos de papéis desempenhados nessa situação de violência: o expectador, a vítima ou o alvo e o agress.
            O expectador é aquele que presencia as situações de Bullying e não interfere nelas. Essa omissão deve-se a duas razões principais: ou por sentir medo de sofrer represálias ou, ao contrário, por estar sentindo prazer com o sofrimento da vítima e não tem coragem de assumir a identidade de agressor (CONSTANTINI, 2004).
            A vítima, ou o alvo, costuma ser uma pessoa que não dispõe de habilidades físicas e emocionais para reagir, tem forte sentimento de insegurança e um retraimento social que dificulta criar novas amizades ou adequar-se ao grupo, o que a impede de solicitar ajuda aos professores ou funcionários da escola. Ela é freqüentemente ameaçada, intimidada, isolada, ofendida, discriminada, agredida, recebe apelidos e provocações, tem os objetos pessoais furtados ou quebrados. No ambiente familiar, apresenta sinais de evitação, tem medo ou receio de ir para escola, mas não procura ajuda dos familiares. Isso pode fazer com que a vítima troque de escola freqüentemente ou abandone os estudos. Em sala de aula são os que falam menos e podem apresentar alterações no rendimento escolar, dispersão ou notas baixas. Em casos mais graves acaba desenvolvendo sintomas de depressão, perda de sono e pesadelo, podendo chegar a tentar ou cometer suicídio (FANTE, 2005, NOGUEIRA, 2006).
            Já os agressores, normalmente, são pessoas antipáticas, arrogantes e desagradáveis. Alguns estudiosos apontam que essas pessoas vêm de famílias pouco estruturadas, com pobre relacionamento e vivem em ambientes onde o modelo para solucionar problemas é o uso de comportamentos agressivos ou explosivos (FANTE, 2005). Geralmente acham que todos devem fazer suas vontades, pois foram acostumados, por uma educação equivocada, a ser o centro das atenções.
            Fante (2005) destaca, ainda, que os atos Bullying podem ocorrer de duas formas: direta e indireta, ambas aversivas e prejudiciais ao psiquismo da vítima. A direta inclui agressões físicas, tais como: bater, chutar, tomar pertences e verbais, como: apelidar de maneira pejorativa e discriminatória, insultar, constranger. Já indireta ocorre através de disseminação de rumores desagradáveis e desqualificados, visando à discriminação e exclusão da vítima de seu grupo social, talvez seja a que mais prejuízo provoque, uma vez que pode criar traumas irreversíveis.
O Bullying, com toda certeza, já se tornou um problema mundial, sendo encontrado em toda e qualquer escola, não estando restrito a nenhum tipo específico de instituição: primária ou secundária, pública ou privada, rural ou urbana. Pode-se afirmar que as escolas que não admitem a ocorrência de Bullying entre seus alunos, ou desconhecem o problema, ou se negam a enfrentá-lo.
A única maneira de se combater o Bullying, segundo aponta Nogueira (2006), é através da cooperação de todos os envolvidos: professores, funcionários, alunos e pais. Em termos práticos, por exemplo, os alunos poderão criar regras de convivência e discuti-las com a equipe pedagógica, buscando soluções e respeitando as diferenças de cada um. Os pais deverão ser ouvidos e orientados a colocar limites claros de convivência, e ajudar sempre que souberem de algum problema sem aumentar ou diminuir a informação recebida. Mas, ao se identificar um autor e uma vítima, ambos devem ser orientados (NOGUEIRA, 2005), pois  intervir imediatamente, tão logo seja identificada a existência do fenômeno, e manter atenção permanente sobre isso, constiui-se na a estratégia ideal.
Pode-se, então, afirmar que as medidas adotadas pela escola para o controle do Bullying, se bem aplicadas e envolvendo toda a comunidade escolar, poderão contribuir positivamente para a formação de uma cultura de não-violência na sociedade.

2. CONSEQÜÊNCIAS E ESTRATÉGIAS DE INTERVENÇÃO: olhando para o Bullying

           
A conduta Bullying afeta todos os que nele estão envolvidos, em especial a vítima, porque pode continuar a sofrer seus efeitos negativos muito além do período escolar, trazendo prejuízos futuros em suas relações de trabalho e familiar, como também acarretar prejuízos para a sua saúde física e mental (CONSTANTINI, 2004).
As brincadeiras de mau gosto, humilhações, ameaças, intimidações e agressões ocorridas nas escolas atingem direta e negativamente todas as crianças sem exceção, porque passam a experimentar sentimentos de ansiedade e medo. Quando testemunham situações de Bullying e percebem que esse comportamento agressivo não traz nenhuma conseqüência a quem o pratica, por exemplo, podem achar por bem adotá-lo. Sem intervenções efetivas, o ambiente escolar torna-se totalmente contaminado por esse fenômeno (NOGUEIRA, 2006).
As crianças vítimas do fenômeno Bullying, dependendo de suas características individuais e de suas relações com o meio em que vive, em especial o familiar, poderão ou não superar os traumas sofridos na escola. Sendo assim, a probabilidade de crescerem com sentimentos negativos, especialmente com baixa auto-estima, tornando-se adultos com sérios problemas de relacionamento, ou então assumirem, um comportamento agressivo deve ser considerado.
            Dependendo da intensidade do sofrimento vivido, a vítima poderá desenvolver reações intra-psíquicas, com sintomas psicossomáticos, tais como: enurese, taquicardia, sudorese, insônia, cefaléia, dor epigástrica, bloqueio dos pensamentos e do raciocínio, ansiedade, estresse e depressão, pensamentos de vingança e de suicídio, bem como reações extra-psíquicas, expressas por agressividade, impulsividade, hiperatividade e abuso de substâncias químicas (NOGUEIRA, 2006).
            Na infância, segundo Fante (2005), o Bullying também pode desencadear na vítima uma condição psiquiátrica caracterizada por explosões de cólera e episódios transitórios de paranóia ou psicose, conhecida como Borderline Personality Disorder (transtorno de personalidade limítrofe), alterando o desenvolvimento dos sistemas límbicos.
Enquanto a vítima sofre, o agressor experimenta a sensação de consolidação de suas condutas autoritárias. Normalmente, ele apresenta certo distanciamento e falta de adaptação aos objetivos escolares, supervalorizam a violência como forma de obtenção de poder, e tornam-se uma pessoa de difícil convivência na vida, seja pessoal, profissional ou social (FANTE, 2005).
Estudos realizados em diversos países sinalizam para a possibilidade de que autores de Bullying, na fase escolar, venham posteriormente a se envolver em atos de delinqüência ou de criminalidade, inclusive adotando atitudes agressivas no seio familiar (violência doméstica) ou no ambiente de trabalho.
            Em relação aos expectadores, também são afetados por esse ambiente de tensão, podendo tornar-se inseguros e temerosos de que possam vir a ser a próxima vítima do agressor (NOGUEIRA, 2006).

2.1 Estratégias adequadas para a redução do Bullying nas escolas

Não existem soluções simples para se combater o Bullying, dada à complexidade do problema e suas múltiplas causas. Sendo assim, cada escola precisa desenvolver sua própria estratégia para reduzi-lo, e isso demanda conhecer tanto o fenômeno quanto a escola.
Quanto mais precocemente se agir contra o Bullying, mais cedo ele poderá cessar e melhor poderá ser o resultado para os alunos, conseqüentemente para a escola.